O “Valor” de Deus

A Santíssima Trindade

Há uns dias atrás, estava discutindo informalmente com o Romero, um irmão católico, e estava defendendo a teoria do valor subjetivo enquanto dizia que o valor das coisas era atribuído pelo agente homem (homo agens) e que não era intrínseco ao objeto. Por mais que o mesmo fosse capaz de gerar determinado efeito objetivamente, o valor que o agente atribui ao fim que este efeito o ajude a atingir é subjetivo e, portanto, a importância dada a tal capacidade também o é.

Até o momento tudo estava ocorrendo bem, até que fui questionado por ele se Deus possuía valor. Respondi que o valor de Deus era inestimável, que Ele é essência e transcende as categorias humanas como o valor. Porém, disse, contraditoriamente, que o valor de Deus é inestimável e inquantificável. No momento da discussão (que ainda não é o debate que planejo realizar entre Romero e eu), não pude ir muito longe, pois não tive muito tempo para reflexão e análise.

Agora, porém, estou convicto de 2 coisas:

1. Que Deus é escasso no sentido em que os marginalistas (neoclássicos e austríacos) descrevem.

2. Que Deus possui valor inestimável porque a satisfação (descrita na terminologia econômica como utilidade) que ele gera nos corações humanos é plena e inefável.

O primeiro ponto é um pouco contra-intuitivo visto que Deus é onipresente e está em todas as coisas. Todavia, a concepção marginalista de valor marginal decrescente se dá no fato que unidades idênticas (ou percebidas como idênticas pelo agente/consumidor) do bem em questão é de menor valor que as anteriores pelo simples fato de que a urgência ou o grau de relevância da necessidade (naquele período de tempo) é menor quanto maior a disponibilidade do bem que a satisfaça, pois as unidades anteriores irão, progressivamente, atendendo as necessidades do agente.

Deus, por outro lado, é ÚNICO, por mais que ele seja, ao mesmo tempo, o Deus Criador (PAI), Salvador (FILH

O, Cristo), e Santificador (Espírito Santo), os três são um só, e outro Deus não há. Isso fica mais evidente no grau de importância diferente que os deuses pagãos tinham entre si, tanto os nórdicos, como os gregos, romanos (que eram uma versão adaptada dos deuses gregos do olimpo) e etc.

Quanto à satisfação que Deus gera ser absoluta, isto se deve ao primeiro fato da Ciência Econômica e da Ação Humana que é a eterna insatisfação humana e seus desejos ilimitados. Já Deus é o que preenche o vazio da alma humana, é o que traz sentido a ela, a promessa da vida eterna através da caridade, da vida digna (que é perfeitamente compatível e complementar à conduta econômica que leva à prosperidade social como poupança, respeito à propriedade privada e investimento a longo prazo), os valores tradicionais (que barram comportamentos degenerativos e consumistas que dizimam os recursos da sociedade, ou a instituição da família que fortalece o indivíduo e é o berço de sua socialização, ao invés do estado), entre os demais pilares da civilização ocidental cuja pedra angular é a tradição católica.

Todavia, atribuir um valor econômico a Deus ainda estaria atrelando a Ele uma categoria à qual ele transcende. Podemos afirmar que o valor que nós, seus filhos lhe atribuímos é algo impróprio de Deus, pois ele é a essência e origem de tudo o que há e, mesmo que nós o valorizemos de forma que seja compreensível pela teoria do valor marginal decrescente, Deus está para além do valor, que existe, porém é uma categoria da mente humana, e não algo intrínseco ao objeto (o que resolve a aparente contradição descrita ao início do texto).

A ideia de atribuir valor a Deus é equivalente a reduzir sua infinitude à crisis, à separação categórica e antinômica àquele que não possui limite, ou crisis. Deus transcende a crisis à qual a própria noção marginal do valor está implicitamente atrelada. Deus é uno, o uno é inefável (pois definí-lo é separá-lo por características e, portanto, não seria mais uno e, neste sentido, concordo com Pseudo-Dionísio Areopagita) logo, Deus é inefável e, deste modo, acima da linguagem, deste modo, se encontra acima de considerações axiológicas.

Espero, portanto, com este raciocínio, ter demonstrado que o valor de Deus não é próprio dEle, pois Ele transcende esta categoria, tal como seu povo atribui um valor a Ele por conta dos fatos acima descritos, assim como outros (ao meu ver, tolos) não o valorizam.

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Metalnomics (Economista Metalhead)

O economista acadêmico com o menor senso de profissionalismo já visto.