Explicando o problema do Cálculo Econômico em uma Aula de Princípios

Autor: Jim Cox

Tradução: Pedro Micheletto Palhares

Leia o artigo original no link

Uma aula de princípios de Microeconomia presenteia os professores com a oportunidade de, ao menos brevemente, explicar o problema do cálculo econômico. Praticamente todo texto dedica uma página ou duas à função produção — a relação entre insumos e quantidade produzida pela firma.

Aqui estão os dados e gráficos relevantes de tais textos:

Eixo Y: produção da firma; Eixo X: fator variável (trabalho no curto prazo); 1º Quadrante: rendimentos marginais crescentes; 2º rendimentos marginais decrescentes; 3º rendimentos marginais negativos; TP: produto total; AP: Produto médio e MP: Produto Marginal.

O professor pode perguntar aos estudantes: “a qual quantidade q a firma deve produzir?”- que é uma questão central em microeconomia.

Olhando para as figuras e os gráficos, os estudantes irão provavelmente responder: “ao pico do produto total”, ou “ao produto marginal mais alto”, ou ainda “ao produto médio mais alto”.

Nenhuma destas resposta é correto, pois não há nenhuma forma racional de responder baseado na informação limitada que foi passada. Não há uma forma racional de responder porque os dados apenas incluem as quantidades de insumos (e fatores de produção) e quantidades de produto. Não há valor na forma de preços atrelada a ambos os insumos e produto. Até os preços serem incluídos não há resposta (N.T: pois os preços serão relativos à avaliação por parte dos consumidores do quanto do bem se faz necessário, que determinará diretamente sua lucratividade pelo diferencial entre receita e custos, vale notar que a receita auferida só é de fato um dado ex post facto, i.e quando o produto é efetivamente colocado à venda).

Segue um exemplo para ilustrar este ponto:

Se a quantidade de produto é avaliada pelos consumidores no mercado a um preço de R$1,00 enquanto cada insumo custo R$100,00 para a firma, é óbvio que produzir qualquer unidade seria um desastre financeiro para a firma, na forma de prejuízos massivos (e assim a firma estaria destruindo valor no mundo). Por outro lado, se os consumidores, no mercado, valorizarem os produtos ao preço de R$50,00 cada e os insumos a R$2,00 cada, a firma poderá fazer lucros significativos (e então estaria adicionando valor ao mundo). (N.T: algo importante a ser observado é que o valor subjetivo determina a disposição a pagar de cada indivíduo por determinado bem, mas existe também a limitação das restrições orçamentárias individuais para os limites das disposições a pagar de cada consumidor que determinarão a demanda efetiva)

Os socialistas propuseram a abolição tanto da moeda e preços (N.T: ao menos da forma que são criados nesses processos que exprimem valorações dos consumidores e, portanto, as necessidades e desejos da sociedade cuja produção deve atender para gerar riqueza), os deixando na mesma posição que nossos estudantes tentando determinar qual quantidade produzida será melhor para estabelecer o nível de produção. Apontar essa falha permite ao professor narrar a história de Ludwig Von Mises destacando este problema em seu artigo de 1920: “O cálculo econômico em uma comunidade socialista” (N.T: e posteriormente no capítulo 26 de sua obra magna Ação Humana, em que acrescenta o problema do uso de equações diferenciais da economia matemática através de preços falsos estabelecidos por critérios arbitrários que não exprimem valoração de consumidores) e no debate resultante sobre o problema nos anos 20 e durante os anos 30.

Enquanto Mises — e Hayek que também participou deste debate — mantiveram sua visões, os críticos socialistas se retiraram do debate se autossatisfeitos de que haviam respondido ao desafio constatando que as autoridades socialista poderiam dirigir os gestores a ajustar a produção simulando mercados (N.T: ou calculando com base na teoria do valor trabalho, que enfrenta uma problema de circularidade na determinação que exploro neste texto e seu apêndice), isto é, mercados não-existentes! Estariam meramente “brincando de mercado”.

Como Mises pontuou, até os gestores socialistas melhor intencionados estariam perdidos na tentativa de descobrir qual seria o melhor nível de produção a ser estabelecido(N.T: assim como a qualidade dos produtos).

Também é interessante pontuar que brincar de mercado com ativos que não possuem é definitivamente diferente de arriscar ativos próprios! Quando se tem a propriedade dos ativos, tais decisões terão um impacto significativo no bem estar financeiro do proprietário.

(A propósito, em todos os meus anos lecionando aulas de princípios, nunca vi um texto que levantasse o problema do cálculo econômico de forma alguma.)

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Metalnomics (Economista Metalhead)

O economista acadêmico com o menor senso de profissionalismo já visto.